sexta-feira, 11 de outubro de 2013
terça-feira, 8 de outubro de 2013
O Negro no Rio Grande do Sul
Ao contrário do que muitos pensam os afro-descendentes
também contribuíram para a formação histórica, social e econômica do Rio Grande
do Sul. A participação dos negros na formação histórica gaúcha não mereceu
ainda as atenções devidas da historiografia, que por muitos anos negou a
presença destes em território gaúcho, alegando ter a província do Rio Grande do
Sul uma formação histórica diferenciada do restante do Brasil.
A presença de afro-brasileiros no extremo sul do país é
anterior à fundação oficial do Rio Grande do Sul lusitano, ocorrida no século
XVIII. Diferente de outras etnias, os negros tiveram sua presença no território
gaúcho pela coerção, ou seja, foram trazidos à força como escravos para
trabalharem na província gaúcha assim como já o faziam no restante do
território brasileiro.
A participação dos negros no Rio Grande do Sul pode ser
comprovada através dos vários censos realizados no século passado. O censo de
1814 nos apresenta uma população significativa de afro-brasileiros, em torno de
36,7%, contra 45,6% de brancos. Os dados demonstram também ser Pelotas a cidade
gaúcha com maior concentração populacional de afro-brasileiros, onde estes
ultrapassam os 60% da população contra 29,4% de brancos. O caso de Pelotas ter
a maior concentração de escravos se justifica devido ao fato de ser a mesma o
grande centro econômico gaúcho do século XIX, o que se deu pela enorme
concentração das charqueadas na região. As charqueadas foram a principal
atividade econômica gaúcha no século passado. Responsáveis por mais de 85% das
exportações gaúchas, como também pela maior concentração de escravos em
estabelecimentos produtivos no Rio Grande do Sul, tivemos estabelecimentos
charqueadores com mais de cem escravos, o que demonstra a importância da
escravidão negra para a economia gaúcha.
Não foi somente na economia que os negros se destacaram
no Rio Grande do Sul. Eles também tiveram participação efetiva nos confrontos
bélicos gaúchos, onde se destacaram principalmente na Revolução Farroupilha. A
participação dos afro-descendentes deu-se através dos escravos que, em troca de
sua carta de alforria, iam para frente de batalha lutar por uma causa que não
era sua, mas sim dos grandes latifundiários gaúchos descontentes com o governo
central.
Os negros "farroupilhas" foram chamados de lanceiros negros
e participaram do movimento até o extermínio deles próprios, extermínio este
fruto de uma traição farroupilha: os lanceiros tornam-se um empecilho para o
acordo de paz entre farroupilhas e imperiais, pois os imperiais não aceitavam
que fossem dadas as alforrias prometidas aos escravos, como fora prometido
pelos rebeldes. Sendo assim, era necessário, achar uma solução para os
lanceiros que não fossem a sua liberdade prometida. A solução encontrada foi a
seguinte:
"Em tratativas firmadas entre Duque de Caxias e
David Canabarro, ficou traçada a sorte dos lanceiros: Caxias ordenou que o
coronel Francisco Pedro de Abreu atacasse o acampamento farroupilha no dia
14/11/1844, e que o mesmo não temesse o resultado do confronto, pois a infantaria
farroupilha, composta por escravos, estaria desarmada, por ordem de Canabarro,
conforme o "acordo secreto" entre ambos. Desta forma, com o auxílio
de Canabarro, a infantaria negra foi covardemente massacrada". Este fato
dá a dimensão do tratamento dispensado aos negros do Rio Grande do Sul.
Os escravos gaúchos reagiram às brutalidades senhoriais
através de fugas, assassinatos, revoltas, insurreições, etc. Se no Rio Grande
do Sul nenhum quilombo alcançou a dimensão do quilombo dos Palmares, não significa
que estes não tenham sido importantes também aqui. Contudo o quilombo de Manoel
Padeiro, que talvez tenha sido o mais importante quilombo gaúcho. O quilombo do
Padeiro apresentava uma estrutura militar e uma rígida hierarquia e, devido a
suas ações guerrilheiras, causava grande pânico na população local, assim como
preocupação nas autoridades constituídas que, com razão, temiam, ataques dos
quilombos.
Assim sendo, as fugas, as revoltas e os quilombos
permaneceram na província gaúcha até 1888 quando da promulgação da Lei Áurea,
lei esta que assinalou o termino da escravidão legal, mas não o fim das lutas
do negro.
sábado, 5 de outubro de 2013
Quem não pode com mandinga, não carrega patuá
Mandinga significa magia, simpatia ou
feitiço. Ela pode ser para cura, abertura de caminhos, para ajudar a conseguir
um emprego, enfim... Nos fundamentos da verdadeira Umbanda ela sempre é feita
para o bem e pelo bem.
Mas esse termo é muito antigo e originalmente
tinha outro significado.
Você já ouviu a expressão “quem não
pode com mandinga, não carrega patuá”?
Ela surgiu no tempo da escravidão, onde
os Mandingas eram um grupo (ou nação) africano do norte, próximo aos árabes,
que acabou por se tornar muçulmano. Com o tráfico de escravos, muitos negros
Mandingas vieram parar nas Américas. Porém, os Mandingas eram escravos que
sabiam ler e escrever em árabe, além de conhecer a matemática melhor do que os
brancos, seus senhores, e este estado superior de cultura de um determinado
grupo negro fez com que fossem tidos como feiticeiros, passando a expressão
Mandinga a sinônimo de feitiço. Por outro lado, os negros que praticavam o
culto aos Orixás eram vistos como infiéis pelos negros muçulmanos.
O branco, aproveitando-se dessa
rivalidade e confiando aos mandingas funções superiores que os demais, faziam a
animosidade entre eles crescer. Os mandingas não eram obrigados pelos brancos a
ingerir restos de comida e até mesmo permitiam que estes trouxessem trechos do
Alcorão encerrados em pequenos saquinhos de pele pendurados ao pescoço, o
famoso Patuá. Os Mandingas eram, em geral, os negros que ocupavam a função de
caçadores de escravos fujões (capitães-do-mato).
Quando um negro pretendia fugir, além
de se preparar para lutar sem armas através da capoeira e do maculelê, ele
deixava o cabelo crescer e pendurava ao pescoço um Patuá, fazendo-se passar por
um Mandinga para não ser perseguido. Mas se um verdadeiro Mandinga o abordasse
e ele não soubesse responder em árabe, descarregaria todo seu furor nesse
infeliz negro fujão. Daí nasceu a expressão “quem não pode com mandinga, não
carrega patuá”.
Mais tarde o hábito de utilizar patuás
entre negros foi se generalizando, pois estes acreditavam que o poder dos
Mandingas era devido, em grande parte, aos poderes do Patuá.
MAS, AFINAL, O QUE É PATUÁ?
O patuá é um objeto consagrado que traz
em si o axé, a força mágica do Orixá ou Guia de luz, a quem ele é consagrado.
Salve os Pretos-Velhos!
Saravá!
Preto-velho na umbanda
Preto-velho na Umbanda são espíritos que se apresentam em
corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente
como: escravos que morreram no tronco ou de velhice e adoram contar as
histórias do tempo do cativeiro. Sábios, ternos e pacientes dão o amor, a fé e
a esperança aos “seus filhos”.
São entidades desencarnadas que tiveram pela sua idade
avançada, o poder e o segredo de viver longamente através da sua sabedoria,
apesar da rudeza do cativeiro demonstram fé para suportar as amarguras da vida,
conseqüentemente são espíritos guias de elevada sabedoria geralmente ligados à
Confraria da Estrela Azulada dentro da Doutrina Umbandista do Tríplice Caminho
( AUMBANDHAM – alegria e pureza + fortaleza e atividade + sabedoria e
humildade), trazendo esperança e quietude aos anseios da consulência que os
procuram para amenizar suas dores, ligados a vibração de Omolu, são
mandingueiros poderosos, com seu olhar perscrutador sentado em seu banquinho,
fumando seu cachimbo, benzendo com seu ramo de arruda,rezando com seu terço e
aspergindo sua água fluidificada, demandam contra o baixo astral e suas
baforadas são para limpeza e harmonização das vibrações de seus médiuns e de
consulentes. Muitas vezes se utilizam de outros benzimentos, como os utilizados
pelo Pai José de Angola, que se utiliza de um preparado de “guiné” (pedaços de
caule em infusão com cachaça) que coloca nas mãos dos consulentes e solicita
que os mesmos passem na testa e nuca, enquanto fazem os seus pedidos
mentalmente; utiliza-se também de vinho moscatel, com o que constantemente
brinda com seus “filhos” em nome da vitória que está por vir.
São os Mestres da sabedoria e da humildade. Através de
suas várias experiências, em inúmeras vidas, entenderam que somente o Amor
constrói e une a todos, que a matéria nos permite existir e vivenciar fatos e
sensações, mas que a mesma não existe por si só, nós é que a criamos para estas
experiências, e que a realidade é o espírito. Com humildade, apesar de imensa
sabedoria, nos auxiliam nesta busca, com conselhos e vibrações de amor
incondicional. Também são Mestres dos elementos da natureza a qual utilizam em
seus benzimentos.
Os Pretos Velhos : Os espíritos da humildade, sabedoria e
paciência.
São entidades cultuadas pelas religiões
afro-brasileiras, em especial a Umbanda. Nos trabalhos espirituais desta
religião, os médiuns incorporam entidades que possuem níveis de evolução e
arquétipos próprios. Estas se dividem em três níveis:
As Crianças – chamadas eres, ou ibejis, representam a
pureza, a inocência, daí sua característica infantil.
Os Caboclos – onde se incluem os Boiadeiros, Caboclos e
Caboclas, representam a força, a coragem, portanto apresentam a forma do
adulto, do herói, do guerreiro, do índio ou soldado.
Os Pretos Velhos – incluem os Tios e Tias, Pais e Mães,
Avôs e Avós todos com a forma do idoso, do senhor de idade, do escravo. Sua
forma idosa representa à sabedoria, o conhecimento, a fé. A sua característica
de ex-escravo passa à simplicidade, a humildade, a benevolência e a crença no
“poder maior”, no Divino.
A grande maioria dos terreiros de Umbanda, assim também
suas entidades possuem a fé Cristã, ou seja, acreditam e cultuam Jesus (Oxalá).
Entidades aqui tomadas no sentido de espíritos que auxiliam aos encarnados, o
mesmo que guia de luz.
A característica desta linha seria o conselho, a
orientação aos consulentes devido a elevação espiritual de tais entidades é
como psicólogos, receitam auxílios, remédios e tratamentos caseiros para os
males do corpo e da alma.
Os Pretos Velhos seriam as entidades mais conhecidas
nacionalmente, mesmo por leigos que só ouviram falar destas religiões
Afro-Brasileiras. O Preto Velho é lembrado também pelo instrumento que normalmente
utiliza – o cachimbo.
Os nomes de alguns Pretos Velhos comuns de que se tem
notícia são Pai João, Pai Joaquim de angola, Pai José de Angola, Pai
Francisco,Vovó Maria conga, Vovó Catarina. Pai Jacó], Pai Benedito, Pai
Anastácio, Pai Jorge, Pai Luis, Mãe Maria, Mãe Cambina, Mãe Sete Serras, Mãe
Cristina, Mãe Mariana, Maria Conga, Vovó Rita e etc.
Na Umbanda os Pretos Velhos são homenageados no dia 13 de
maio, data que foi assinada a Lei Áurea, a abolição da escravatura.
Os pontos servem para saudar a presença das entidades,
diferentemente do que geralmente se pensa, não foram feitos para chamar, mas
sim para agradecer a presença, como um “Olá”.
Crê-se que em referência à dor e aflição sofrida pelo
povo negro (período de trevas no território brasileiro), a linha de preto velho
reflete a humildade, a paciência e a perseverança característica da atuação da
linha nominada de Yorima, cujo apresenta-se de pés no chão, cachimbo de barro
bem rústico, quando não cigarro de palha, café, e um fio de contas de rosários
(Lágrima de Nossa Senhora) e cruzes, figas e breves os quais utilizam
magisticamente em sua atuação astral.
Os pretos velhos apresentam-se com nomes que
individualizam sua atuação, conforme nação ou orixá regente, evidenciando sua
atuação propriamente dita.
Em sua linha de atuação eles apresentam-se pelos
seguintes codinomes, conforme acontecia na época da escravidão, onde os negros
eram nominados de acordo com a região de onde vieram:
Aruanda_ Ex: (Pai Francisco de Aruanda), refere-se a
pretos velhos ativos na linha de Oxalá. (OBS: Aruanda quer dizer céu);
D´Angola_ Ex: (Pai Francisco D´Angola), refere-se a
pretos velhos ativos na linha de Ogum;
Matas_ Ex: (Pai Francisco das Matas), refere-se a pretos
velhos ativos na linha de Oxóssi;
Calunga, Cemitério ou das Almas_ Ex: (Pai Francisco da
Calunga, Pai Francisco do Cemitério ou Pai Francisco das Almas), refere-se a
pretos velhos ativos na linha de Omolu/ Obaluayê;
Entre diversas outras nominações tais como: _Guiné,
Moçambique, da Serra, da Bahia, etc…
Muitos Pretos Velhos podem apresentar-se como Tio, Tia,
Pai, Mãe, Vó ou Vô, porém todos são Pretos Velhos. Na gira eles só comem o que
for feito de milho como por exemplo: Bolo de milho, pamonha, cural e etc.
“AS
SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO”.
Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho,
fumando o seu cachimbo um triste Preto Velho chorava. De seus olhos molhados,
esquisitas lágrimas desciam-lhe pela face e… Foram sete.
A Primeira… A estes indiferentes que vem no Terreiro em
busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não
podem conceber;
A Segunda… A esses eternos duvidosos que acreditam,
desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que
seus próprios merecimentos negam;
A Terceira… Aos maus, aqueles que somente procuram a
umbanda em busca de vingança, desejando sempre prejudicar ao semelhante;
A Quarta… Aos frios e calculistas, que sabem que existe
uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma, e não
conhecem a palavra gratidão;
A Quinta… Chega suave, tem o sorriso, o elogio da flor
dos lábios, mas se olharem bem seu semblantes verão escrito: creio na Umbanda,
nos teus Caboclos e no teu Zambi, mas somente se resolverem o meu caso ou me
curarem disto ou daquilo;
A Sexta… Aos fúteis, que vão de centro em centro, não
acreditando em nada, buscam aconchego, conchavos e seus olhos revelam um
interesse diferente;
A Sétima… Como foi grande e como deslizou pesada! Foi à
última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Aos médiuns
vaidosos (as), que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam as doutrinas.
Esquecem que existem tantos irmãos precisando de caridade e tantas criancinhas
precisando de amparo material e espiritual.
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