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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Por que no meio da dor os negros, dançam, cantam e riem?


Milhares de pessoa em toda a Africa do Sul misturam choro com dança, festa com lamentos pela morte de Nelson Mandela. É a forma como realizam culturalmente o rito de passagem da vida deste lado para a vida do outro lado, onde estão os anciãos, os sábios e os guardiães do povo, de seus ritos e das normas éticas. Lá está agora Mandela de forma invisível mas plenamente presente acompanhando o povo que ele tant ajudou  a se libertar.
Momentos como estes nos fazem recordar de nossa mais alta ancestralidade humana. Todos temos nossas raízes na Africa, embora a grande maioria o desconheça ou não lhe dê importância. Mas é decisivo que nos reapropriemos de nossas origens, pois elas, de um modo ou de outro, na forma de informação, estão inscritas no nosso código genético e espiritual.
Refiro-me aqui tópicos de um texto que há tempos escrevi sob o título:”somos todos africanos” atualizado face à situação atual mudada. De saída importa denunciar a tragédia africana: é o continente mais esquecido e vandalizado das políticas mundiais. Somente suas terras contam. São compradas pelos grandes conglomerados mundiais e pela China para organizar imensas plantações de grãos que devem garantir a alimentação, não da Africa, mas de seus países ou negociadas no mercado especulativo. As famosas “land grabbing” possuem, juntas, a extensão de uma França inteira. Hoje a Africa é uma espécie de espelho retrovisor de como nós humanos pudemos no passado e podemos hoje ainda  ser desumanos e terríveis. A atual neocolonização é mais perversa que a dos séculos passados.
Sem olvidar esta tragédia, concentremo-nos na herança africana que se esconde em nós. Hoje é consenso entre os paleontólogos e antropólogos que a aventura da hominização se iniciou na África, cerca de sete milhões de anos atrás. Ela se acelerou passando pelo homo habilis, erectus, neanderthalense até chegar ao homo sapiens cerca de noventa mil anos atrás. Depois de ficar 4,4 milhões de anos em solo africano este se propagou para a Asia, há sessenta mil anos; para a Europa, há quarenta mil anos; e para as Américas há trinta mil anos. Quer dizer, grande parte da vida humana foi vivida na África, hoje esquecida e desprezada.
A África além de ser o lugar geográfico de nossas origens, comparece como  o arquétipo primal: o conjunto das marcas, impressas na alma de todo ser humano. Foi na África que este elaborou suas primeiras sensações, onde se articularam as crescentes conexões neurais (cerebralização), brilharam os primeiros pensamentos, irrompeu a criatividade e emergiu a complexidade social que permitiu o surgimento da linguagem e da cultura. O espírito da África, está presente em todos nós.
Identifico três eixos principais do espírito da África que  podem nos inspirar na superação da crise sistêmica que nos assola.
O primeiro é o amor à Mãe Terra, a Mama Africa. Espalhando-se pelos vastos espaços africanos, nossos ancestrais entraram em profunda comunhão com a Terra, sentindo a interconexão que todas as coisas guardam entre si, as águas, as montanhas, os animais, as florestas e as energias cósmicas. Sentiam-se parte desse todo. Precisamos nos reapropriar deste espírito da Terra para salvar Gaia, nossa Mãe e única Casa Comum.
O segundo eixo é a matriz relacional (relational matrix no dizer dos antropólogos). Os africanos usam a palavra ubuntu que singifica:”eu sou o que sou porque pertenço à comunidade” ou “eu sou o que sou através de você e você é você através de mim”. Todos precisamos uns dos outros; somos interdependentes. O que a física quântica e a nova cosmologia dizem acerca de interconexão de todos com todos é uma evidência para o espírito africano.
À essa comunidade pertencem os mortos como Mandela. Eles não vão ao céu, pois o céu não é um lugar geográfico, mas um modo de ser deste nosso mundo.  Os mortos continuam no meio do povo como conselheiros e guardiães das tradições sagradas.
O terceiro eixo são os rituais e celebrações. Ficamos admirados que se dedique um dia inteiro de orações por Mandela com missas e ritos. Eles sentem Deus na pele, nós ocidentais na cabeça. Por isso dançam e mexem todo o corpo enquanto nós ficamos frios e duros como um cabo de vassoura.
Experiências importantes da vida pessoal, social e sazonal são celebrados com ritos, danças, músicas e apresentações de máscaras. Estas representam as energias que podem ser benéficas ou maléficas. É nos rituais que ambas se equilibram e se festeja a primazia do sentido sobre o absurdo.
Notoriamente é pelas festas e ritos que a sociedade refaz suas relações e reforça a coesão social. Ademais nem tudo é trabalho e luta. Há a celebração da vida, o resgate das memórias coletivas e a recordação das vitórias sobre ameaças vividas.
Apraz-me trazer o testemunho pessoal de um dos nosos mais brilhantes jornalistas, Washington Novaes:”Há alguns anos, na África do Sul, impressionei-me ao ver que bastava se reunirem três ou quatro negros para começarem a cantar ea  dançar, com um largo sorriso.Um dia, perguntei a um jovem motorista de taxi:”Seu povo sofreu e ainda sofre muito. Mas basta se juntarem umas poucas pessoas e vocês estão dançando, cantando, rindo. De onde vem tanta força?” E ele: “Com o sofrimento, nós aprendemos que a nossa alegria não pode depender de nada fora de nós. Ela tem de ser só nossa, estar dentro de nós.”
Nossa população afrodescendente nos dá a mesma amostra de alegria que nenhum capitalismo e consumismo pode ofecer.

* Texto escrito pelo teólogo Leonardo Boff, retirado do site: http://leonardoboff.wordpress.com/2013/12/12/por-que-no-meio-da-dor-os-negros-dancam-cantam-e-riem/

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Um príncipe negro morou em Porto Alegre



Vindo da tribo pré-colonial de Benis, dinastia de Glefê, da nação Jeje, do estado de Benin, na Nigéria, o lendário Príncipe Custódio do Xapanã Sakpatá Erupê  foi um dirigente tribal africano, exilado no Brasil, onde se tornou famoso como curandeiro e líder religioso. Seu nome tribal era Osuanlele Okizi Erupê, filho primogênito do Obá Ovonramwen. Ao chegar ao Brasil, adotou o nome de José Custódio Joaquim de Almeida, Príncipe de Ajudá (1832-1936)
São João Batista de Ajudá era uma fortaleza portuguesa no Daomé, tendo sido descoberta pelos portugueses quando navegavam na costa da Guiné. Era a capital do antigo Reino de Daomé, edificado numa vasta planície outrora muito povoada de cristãos negros.  O rei D Pedro II de Portugal mandou construir a referida fortaleza a fim de proteger o importante comercio que então os portugueses faziam na Costa da Mina. Foi ocupado pelos Ingleses, que ali estabeleceram importantes feitorias, que passaram a ser defendidas pelas guarnições das fortalezas antes pertencentes a Portugal, entre as quais a de São João Batista de Ajudá. Daomé foi colônia de vários países que se estabeleceram ao longo de seu território à margem do Atlântico, mas em 1876 a Grã-Bretanha terminou a ação que iniciara alguns anos antes, comprando toda a parte dos demais ocupantes, tornando, então, a Costa do Ouro inteiramente de propriedade dos ingleses, os quais também tiveram de entrar em acordo com os reis e príncipes negros que lá governavam.  Desta determinação britânica resultou a deportação de um rei africano, que somente em 1934 teve autorização para voltar a fim de passar sossegadamente o resto de seus dias na terra natal. Com outros governantes foram feitos acordos financeiros por eles aceitos a fim de ser evitado o massacre do seu povo. 

Entre estes estava o Príncipe de São João Batista de Ajudá, que deixou sua terra na Costa da Mina em 1862 quando tinha 31 anos de idade. Ninguém sabe como e em que circunstancias este príncipe governante deixou o Porto de Ajudá, que era perto da Costa do Ouro (hoje Republica de Gana), onde em algumas décadas anteriores, funcionava um dos principais locais de embarque de escravos para o Brasil, mas o certo é que ele partiu ante a promessa solene dos ingleses de que o seu povo não sofreria o que haviam sofrido os grupos vizinhos ante a violência dos alemães e franceses. Os portugueses antes poderosos tinham se contentado com uma parte do Guiné e com as ilhas de São Tome e Príncipe, cedendo as suas fortalezas. As condições para que o Príncipe de Ajudá não oferecesse qualquer resistência aos invasores, alem do respeito pela vida dos seus súditos, era a de que ele se exilasse e jamais voltasse aos seus domínios.  E, como parte do convênio, a Grã-Bretanha se comprometia a fornecer-lhe uma subvenção mensal paga em qualquer parte do mundo onde estivesse, por intermédio dos seus representantes consulares.

Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil como sua nova pátria, não se sabe.  Talvez por haver aqui grande numero de descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina, os chamados “Pretos Mina” ou outra razão qualquer. Sua chegada a nossa terra foi assinada como acontecida em 1864, dois anos depois de ter deixado Ajudá.Inicialmente, fixou-se em Rio Grande, mais tarde foi para o interior de Bagé, e já encontrou por lá rituais religiosos de origem africana, popularmente denominada de Batuque. Ele contribuiu sim, e muito para nossa religião, com seus contatos políticos, pois Custódio vinha de uma família nobre e sua saída da África foi política. Ele sabia como se destacar e fazia bom uso de sua sabedoria religiosa, o que ajudou a travar as perseguições às casas de culto africano e foi onde se tornou famoso como curandeiro e líder religioso. Ninguém sabe como e nem em que circunstâncias, ao final do século XIX este príncipe governante deixou São João Batista de Ajudá, no Daomé e por qual motivo o exilado escolheu o Brasil. Talvez por haver aqui grande número descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina.

De Bagé mudou-se para Porto Alegre, onde chegou em 1901, com 70 anos de idade. O Príncipe Custódio tinha oito filhos, três homens e cinco mulheres. Seus conhecimentos de idioma português não eram muito corretos, porém podia expressar-se fluentemente em inglês e francês, além de falar ainda vários dialetos das tribos africanas que havia governado. As festas que promovia na data de seu aniversário duravam três dias com a casa sempre cheia de gente, de manhã à noite, quando se comia e se bebia do bom e do melhor, ao som dos tambores africanos que batucavam sem parar naquelas setenta e duas horas. Mensalmente o consulado britânico local entregava-lhe um saquinho cheio de libras esterlinas, cuja troca em mil-réis servia para manter a pequena corte da Rua Lopo, a família numerosa, os agregados, os empregados, e ainda serviam àqueles que o procuravam nos momentos de dificuldades financeiras.

No dia 26 de Maio de 1936 morreu o Príncipe Custódio aos 104 anos de existência. Seu velório e seu enterro, atendendo ao pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições africanas com muito batuque e muitos trabalhos em intenção do morto.

Também foi Príncipe Custódio quem fez o assentamento do Bará no mercado público de Porto Alegre, onde todos os adeptos dos cultos africanos fazem reverência cada vez que terminam uma obrigação aos seus Orixás. Isso de certa forma indica que, se o mesmo não foi o introdutor do batuque em nosso estado, provavelmente tenha sido um dos primeiros.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Negro no Rio Grande do Sul


Ao contrário do que muitos pensam os afro-descendentes também contribuíram para a formação histórica, social e econômica do Rio Grande do Sul. A participação dos negros na formação histórica gaúcha não mereceu ainda as atenções devidas da historiografia, que por muitos anos negou a presença destes em território gaúcho, alegando ter a província do Rio Grande do Sul uma formação histórica diferenciada do restante do Brasil.
A presença de afro-brasileiros no extremo sul do país é anterior à fundação oficial do Rio Grande do Sul lusitano, ocorrida no século XVIII. Diferente de outras etnias, os negros tiveram sua presença no território gaúcho pela coerção, ou seja, foram trazidos à força como escravos para trabalharem na província gaúcha assim como já o faziam no restante do território brasileiro.

A participação dos negros no Rio Grande do Sul pode ser comprovada através dos vários censos realizados no século passado. O censo de 1814 nos apresenta uma população significativa de afro-brasileiros, em torno de 36,7%, contra 45,6% de brancos. Os dados demonstram também ser Pelotas a cidade gaúcha com maior concentração populacional de afro-brasileiros, onde estes ultrapassam os 60% da população contra 29,4% de brancos. O caso de Pelotas ter a maior concentração de escravos se justifica devido ao fato de ser a mesma o grande centro econômico gaúcho do século XIX, o que se deu pela enorme concentração das charqueadas na região. As charqueadas foram a principal atividade econômica gaúcha no século passado. Responsáveis por mais de 85% das exportações gaúchas, como também pela maior concentração de escravos em estabelecimentos produtivos no Rio Grande do Sul, tivemos estabelecimentos charqueadores com mais de cem escravos, o que demonstra a importância da escravidão negra para a economia gaúcha.

Não foi somente na economia que os negros se destacaram no Rio Grande do Sul. Eles também tiveram participação efetiva nos confrontos bélicos gaúchos, onde se destacaram principalmente na Revolução Farroupilha. A participação dos afro-descendentes deu-se através dos escravos que, em troca de sua carta de alforria, iam para frente de batalha lutar por uma causa que não era sua, mas sim dos grandes latifundiários gaúchos descontentes com o governo central.

 Os negros "farroupilhas" foram chamados de lanceiros negros e participaram do movimento até o extermínio deles próprios, extermínio este fruto de uma traição farroupilha: os lanceiros tornam-se um empecilho para o acordo de paz entre farroupilhas e imperiais, pois os imperiais não aceitavam que fossem dadas as alforrias prometidas aos escravos, como fora prometido pelos rebeldes. Sendo assim, era necessário, achar uma solução para os lanceiros que não fossem a sua liberdade prometida. A solução encontrada foi a seguinte:
"Em tratativas firmadas entre Duque de Caxias e David Canabarro, ficou traçada a sorte dos lanceiros: Caxias ordenou que o coronel Francisco Pedro de Abreu atacasse o acampamento farroupilha no dia 14/11/1844, e que o mesmo não temesse o resultado do confronto, pois a infantaria farroupilha, composta por escravos, estaria desarmada, por ordem de Canabarro, conforme o "acordo secreto" entre ambos. Desta forma, com o auxílio de Canabarro, a infantaria negra foi covardemente massacrada". Este fato dá a dimensão do tratamento dispensado aos negros do Rio Grande do Sul.

Os escravos gaúchos reagiram às brutalidades senhoriais através de fugas, assassinatos, revoltas, insurreições, etc. Se no Rio Grande do Sul nenhum quilombo alcançou a dimensão do quilombo dos Palmares, não significa que estes não tenham sido importantes também aqui. Contudo o quilombo de Manoel Padeiro, que talvez tenha sido o mais importante quilombo gaúcho. O quilombo do Padeiro apresentava uma estrutura militar e uma rígida hierarquia e, devido a suas ações guerrilheiras, causava grande pânico na população local, assim como preocupação nas autoridades constituídas que, com razão, temiam, ataques dos quilombos.

Assim sendo, as fugas, as revoltas e os quilombos permaneceram na província gaúcha até 1888 quando da promulgação da Lei Áurea, lei esta que assinalou o termino da escravidão legal, mas não o fim das lutas do negro.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A Tradição do Bará do Mercado - Documentário Completo - Porto Alegre/RS

A Tradição do Bará do Mercado traz os relatos de 7 religiosos de matriz africana sobre o fundamento afro-religioso chamado O Bará do Mercado Público, a partir dos percursos e experiências urbanas desses negros na cidade de Porto Alegre. Esse documentário relata a importância da cultura negra em nosso estado, conta a história de um povo que atravessou o oceano sem perder a fé e esperança na sua crença. 





segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Religião Africanista


INICIO NO RIO GRANDE DO SUL
 
Somente duzentos anos após a Bahia ser centro político nacional é que começou efetivamente o Rio Grande do Sul, sua colonização. Esta área foi juridicamente inserida no território pátrio pelo Tratado de Tordesilhas, antes contestada pela Coroa Espanhola.
Em 1737, ainda éramos colônia de Portugal, o governo português para garantir a posse dessas terras mandou edificar em região estratégica o forte “Jesus, Maria e José”, aquartelando tropas. Dentre os operários a maioria era composta de negros. Negros que mais tarde vieram a trabalhar nos salgadouros e charqueadas de Pelotas.
Estamos neste ano comemorando 230 anos desta presença africana aqui. 26 de Julho de 1783. Em fins do século 19 podiam-se contar com muitas Casas de Religião(Ilês) então denominadas Casas de Pará. Após muitos anos é que houve a substituição para Casas de Batuque... ou de Nação. De 1895 a 1935 viveu em Porto Alegre um príncipe africano cujo nome abrasileirado era Manuel Custódio, do Sapatá Erupê. O Príncipe de Ubá. Ou simplesmente, Príncipe. Àquela época vivia-se um clima de incertezas e conflitos entre as facções dos Ximangos e Maragatos. Um Governador; Dr Augusto Borges de Medeiros, apesar de positivista, reza a tradição, com testemunhos, mandou chama-lo e, juntamente com o Tio Chico, do Moçambique, fizeram um assentamento para o Bará, no Palácio e centro do Mercado. Também, Obrigação no lugar do antigo patíbulo, frente a Igreja N. Sra das Dores. Ninguém precisa ler os jornais da época para saber das estripulias policiais quanto ao Candomblé; ou escutar aqui os contemporâneos do interventor Gen. Daltro Filho, em 1937, que autorizava que os portais do Batuque fossem rebentados a pata de cavalo e os dirigentes e membros algemados nas delegacias como criminosos. Hoje tudo está mudando, mas persistem as discriminações de forma velada. A própria irmandade africanista em geral se identifica como católica ou espiritualista, poucos tendo a coragem moral da auto definição.  A respeitabilidade africanista somente acontecerá no dia em que houver conscientização e os dirigentes, principalmente, se prestigiarem e auxiliarem, pois com demanda, cada vez mais perderão o respeito e a força, que com certeza não nos levará a lugar algum.
Em Salvador predominou o grupo Iorubano, chamado após a Invasão Francesa, de Nagô. Aqui, o Bântu. Africanismo, Umbandismo e Kardecismo são correntes paralelas que trabalham exclusivamente com o Astral.
No Africanismo que é assunto predominante, neste momento, temos de considerar a presença de diferentes Nações, pois a África é um continente. Formado de países com características especiais cada um, inclusive com idioma diferente. Isto colocado, o Candomblé é parecido, mas não é o mesmo que o Batuque. Nem na língua, axós, danças, passos, rezas, liturgias ou mesmo Orixás. Ainda mantemos aqui no Estado os seguintes Rituais: Oió, Nagô, Gêge, Igexã e Cabinda. Há algumas casas de Candomblé, cultuando Angola ou Keto. O mais acentuado é o Gêge-Ijexá, nos “toques”.
Temos que nos preocupar com a provável falta de memória das nossas origens, da história de nossa Religião, pois, nomes, nações e ritos caíram no esquecimento das novas gerações.


quarta-feira, 31 de julho de 2013

História da Umbanda no Brasil

A Umbanda nasceu no dia 15 de novembro de 1908, em um trabalho de mesa branca na cidade de Neves RJ. O Caboclo Sete Encruzilhadas incorporou em um médium de nome Zélio Fernandino de Morais, um jovem de apenas 17 anos de idade, rapaz de uma família aristocrata, respeitável e católica.
De repente, surgindo do nada, o jovem Zélio fora acometido de uma estranha paralisia, que os médicos não conseguiam desvendar. Parou de andar perdendo todos os seus movimentos. Certo dia, para espanto geral da família que lhe assistia na doença, ele ergueu-se do leito e disse: amanhã estarei curado. No outro dia, como se fosse mágica, ele se levantou e andou naturalmente como se nada houvesse lhe acontecido. A medicina não sabia explicar o que tinha acontecido a Zélio.
Um grande amigo da família sugeriu que fosse visitar a Federação Espírita de Niterói, no Rio de Janeiro, presidida, na época, por José de Souza. Era exatamente 15 de novembro de 1908, quando o jovem Zélio foi convidado a sentar-se à “mesa branca”, onde se abriram os trabalhos daquela noite.
Sentado à mesa redonda foi tomado por uma força estranha e superior à sua vontade. Contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer membro da mesa, o jovem Zélio levantou-se e disse: “aqui está faltando uma flor!”. Retirou-se e foi até o jardim, voltando pouco tempo depois com uma rosa na mão, que depositou no centro da mesa.
Essa atitude insólita causou quase um tumulto. Restabelecida a corrente na mesa, manifestaram-se espíritos que se diziam de pretos escravos, índios ou caboclos, em diversos médiuns. Esses espíritos foram convidados a se retirarem pelo presidente dos trabalhos, advertidos por seu atraso espiritual.
Foi então que o jovem Zélio, tomado por aquela força estranha e superior, questionou o motivo que levava o dirigente dos trabalhos a não aceitar a comunicação desses espíritos e por que eram considerados atrasados, se apenas pela diferença de cor ou de classe social que revelaram terem tido na sua última encarnação.
Seguiu-se um diálogo acalorado, e os resposáveis pela mesa procuraram doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que estaria incorporado em Zélio, desenvolvendo uma sólida argumentação. Um dos médiuns videntes perguntou então:
"-Afinal, porque o irmão fala nesses termos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? E qual é o seu nome, irmão?"
A resposta de Zélio, ainda tomado pela misteriosa força, foi:
"-Se julgam atrasados estes espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei em casa deste aparelho (o médium Zélio), para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar a sua mensagem, e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E, se querem saber o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."
No outro dia, na hora certa dito pelo caboclo, sem que o médium Zélio pudesse controlar a si mesmo, no jardim da sua casa o Caboclo Sete Encruzilhadas incorporava e todos os médiuns humilhados na mesa branca, não pelas entidades, mas pela falta de conhecimento dos seus dirigentes, lá estavam também para comprovar a veracidade da Entidade. Logo todos os médiuns incorporaram pretos escravos (pretos-velhos) e caboclos.
O Caboclo Sete Encruzilhadas anunciava que o nome dessa nova Luz seria a Umbanda, alguém inicialmente escreveu Aumbanda, logo mais foi corrigido o nome com a orientação do Caboclo Sete Encruzilhadas. Umbanda, palavra de origem sânscrita, também quer dizer: Deus ao nosso lado ou nós ao lado de Deus.
Zélio Fernandino de Morais desencarnou em 1975 aos 84 anos de idade, deixando a grande bandeira da Umbanda hasteada por todo Brasil. Do seu trabalho incansável, honesto e brilhante, resultou a nossa Umbanda de hoje que cresce a cada dia que passa. Faltava no Brasil esta flor trazida pelas mãos de um caboclo: a Umbanda, que já fez conhecida no mundo inteiro.