Vindo da tribo pré-colonial de
Benis, dinastia de Glefê, da nação Jeje, do estado de Benin, na Nigéria, o
lendário Príncipe Custódio do Xapanã Sakpatá Erupê foi um dirigente
tribal africano, exilado no Brasil, onde se tornou famoso como curandeiro e
líder religioso. Seu nome tribal era Osuanlele Okizi Erupê, filho
primogênito do Obá Ovonramwen. Ao chegar ao Brasil, adotou o nome
de José Custódio Joaquim de Almeida, Príncipe de Ajudá (1832-1936)
São João Batista de Ajudá era uma fortaleza
portuguesa no Daomé, tendo sido descoberta pelos portugueses quando navegavam
na costa da Guiné. Era a capital do antigo Reino de Daomé, edificado numa vasta
planície outrora muito povoada de cristãos negros. O rei D Pedro II de
Portugal mandou construir a referida fortaleza a fim de proteger o importante
comercio que então os portugueses faziam na Costa da Mina. Foi ocupado pelos
Ingleses, que ali estabeleceram importantes feitorias, que passaram a ser
defendidas pelas guarnições das fortalezas antes pertencentes a Portugal, entre
as quais a de São João Batista de Ajudá. Daomé foi colônia de vários
países que se estabeleceram ao longo de seu território à margem do Atlântico,
mas em 1876 a Grã-Bretanha terminou a ação que iniciara alguns anos antes,
comprando toda a parte dos demais ocupantes, tornando, então, a Costa do Ouro
inteiramente de propriedade dos ingleses, os quais também tiveram de entrar em
acordo com os reis e príncipes negros que lá governavam. Desta
determinação britânica resultou a deportação de um rei africano, que somente em
1934 teve autorização para voltar a fim de passar sossegadamente o resto de
seus dias na terra natal. Com outros governantes foram feitos acordos
financeiros por eles aceitos a fim de ser evitado o massacre do seu povo.
Entre estes estava o Príncipe de São João Batista
de Ajudá, que deixou sua terra na Costa da Mina em 1862 quando tinha 31 anos de
idade. Ninguém sabe como e em que circunstancias este príncipe governante
deixou o Porto de Ajudá, que era perto da Costa do Ouro (hoje Republica de
Gana), onde em algumas décadas anteriores, funcionava um dos principais locais
de embarque de escravos para o Brasil, mas o certo é que ele partiu ante a
promessa solene dos ingleses de que o seu povo não sofreria o que haviam
sofrido os grupos vizinhos ante a violência dos alemães e franceses. Os
portugueses antes poderosos tinham se contentado com uma parte do Guiné e com
as ilhas de São Tome e Príncipe, cedendo as suas fortalezas. As condições
para que o Príncipe de Ajudá não oferecesse qualquer resistência aos invasores,
alem do respeito pela vida dos seus súditos, era a de que ele se exilasse e
jamais voltasse aos seus domínios. E, como parte do convênio, a
Grã-Bretanha se comprometia a fornecer-lhe uma subvenção mensal paga em qualquer
parte do mundo onde estivesse, por intermédio dos seus representantes
consulares.
Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil como
sua nova pátria, não se sabe. Talvez por haver aqui grande numero de
descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina, os chamados “Pretos
Mina” ou outra razão qualquer. Sua chegada a nossa terra foi assinada como
acontecida em 1864, dois anos depois de ter deixado Ajudá.Inicialmente,
fixou-se em Rio Grande, mais tarde foi para o interior de Bagé, e já encontrou
por lá rituais religiosos de origem africana, popularmente denominada de
Batuque. Ele contribuiu sim, e muito para nossa religião, com seus contatos
políticos, pois Custódio vinha de uma família nobre e sua saída da África foi
política. Ele sabia como se destacar e fazia bom uso de sua sabedoria
religiosa, o que ajudou a travar as perseguições às casas de culto africano e
foi onde se tornou famoso como curandeiro e líder religioso. Ninguém sabe
como e nem em que circunstâncias, ao final do século XIX este príncipe governante
deixou São João Batista de Ajudá, no Daomé e por qual motivo o exilado escolheu
o Brasil. Talvez por haver aqui grande número descendentes dos escravos nativos
da Costa da Mina.
De Bagé mudou-se para Porto Alegre, onde chegou em
1901, com 70 anos de idade. O Príncipe Custódio tinha oito filhos, três homens
e cinco mulheres. Seus conhecimentos de idioma português não eram muito
corretos, porém podia expressar-se fluentemente em inglês e francês, além de
falar ainda vários dialetos das tribos africanas que havia governado. As festas
que promovia na data de seu aniversário duravam três dias com a casa sempre
cheia de gente, de manhã à noite, quando se comia e se bebia do bom e do
melhor, ao som dos tambores africanos que batucavam sem parar naquelas setenta
e duas horas. Mensalmente o consulado britânico local entregava-lhe um saquinho
cheio de libras esterlinas, cuja troca em mil-réis servia para manter a pequena
corte da Rua Lopo, a família numerosa, os agregados, os empregados, e ainda
serviam àqueles que o procuravam nos momentos de dificuldades financeiras.
No dia 26 de Maio de 1936 morreu o Príncipe
Custódio aos 104 anos de existência. Seu velório e seu enterro, atendendo ao
pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições africanas com muito
batuque e muitos trabalhos em intenção do morto.
Também foi Príncipe Custódio quem fez o
assentamento do Bará no mercado público de Porto Alegre, onde todos os adeptos
dos cultos africanos fazem reverência cada vez que terminam uma obrigação
aos seus Orixás. Isso de certa forma indica que, se o mesmo não foi o
introdutor do batuque em nosso estado, provavelmente tenha sido um dos
primeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário