terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Negro no Rio Grande do Sul


Ao contrário do que muitos pensam os afro-descendentes também contribuíram para a formação histórica, social e econômica do Rio Grande do Sul. A participação dos negros na formação histórica gaúcha não mereceu ainda as atenções devidas da historiografia, que por muitos anos negou a presença destes em território gaúcho, alegando ter a província do Rio Grande do Sul uma formação histórica diferenciada do restante do Brasil.
A presença de afro-brasileiros no extremo sul do país é anterior à fundação oficial do Rio Grande do Sul lusitano, ocorrida no século XVIII. Diferente de outras etnias, os negros tiveram sua presença no território gaúcho pela coerção, ou seja, foram trazidos à força como escravos para trabalharem na província gaúcha assim como já o faziam no restante do território brasileiro.

A participação dos negros no Rio Grande do Sul pode ser comprovada através dos vários censos realizados no século passado. O censo de 1814 nos apresenta uma população significativa de afro-brasileiros, em torno de 36,7%, contra 45,6% de brancos. Os dados demonstram também ser Pelotas a cidade gaúcha com maior concentração populacional de afro-brasileiros, onde estes ultrapassam os 60% da população contra 29,4% de brancos. O caso de Pelotas ter a maior concentração de escravos se justifica devido ao fato de ser a mesma o grande centro econômico gaúcho do século XIX, o que se deu pela enorme concentração das charqueadas na região. As charqueadas foram a principal atividade econômica gaúcha no século passado. Responsáveis por mais de 85% das exportações gaúchas, como também pela maior concentração de escravos em estabelecimentos produtivos no Rio Grande do Sul, tivemos estabelecimentos charqueadores com mais de cem escravos, o que demonstra a importância da escravidão negra para a economia gaúcha.

Não foi somente na economia que os negros se destacaram no Rio Grande do Sul. Eles também tiveram participação efetiva nos confrontos bélicos gaúchos, onde se destacaram principalmente na Revolução Farroupilha. A participação dos afro-descendentes deu-se através dos escravos que, em troca de sua carta de alforria, iam para frente de batalha lutar por uma causa que não era sua, mas sim dos grandes latifundiários gaúchos descontentes com o governo central.

 Os negros "farroupilhas" foram chamados de lanceiros negros e participaram do movimento até o extermínio deles próprios, extermínio este fruto de uma traição farroupilha: os lanceiros tornam-se um empecilho para o acordo de paz entre farroupilhas e imperiais, pois os imperiais não aceitavam que fossem dadas as alforrias prometidas aos escravos, como fora prometido pelos rebeldes. Sendo assim, era necessário, achar uma solução para os lanceiros que não fossem a sua liberdade prometida. A solução encontrada foi a seguinte:
"Em tratativas firmadas entre Duque de Caxias e David Canabarro, ficou traçada a sorte dos lanceiros: Caxias ordenou que o coronel Francisco Pedro de Abreu atacasse o acampamento farroupilha no dia 14/11/1844, e que o mesmo não temesse o resultado do confronto, pois a infantaria farroupilha, composta por escravos, estaria desarmada, por ordem de Canabarro, conforme o "acordo secreto" entre ambos. Desta forma, com o auxílio de Canabarro, a infantaria negra foi covardemente massacrada". Este fato dá a dimensão do tratamento dispensado aos negros do Rio Grande do Sul.

Os escravos gaúchos reagiram às brutalidades senhoriais através de fugas, assassinatos, revoltas, insurreições, etc. Se no Rio Grande do Sul nenhum quilombo alcançou a dimensão do quilombo dos Palmares, não significa que estes não tenham sido importantes também aqui. Contudo o quilombo de Manoel Padeiro, que talvez tenha sido o mais importante quilombo gaúcho. O quilombo do Padeiro apresentava uma estrutura militar e uma rígida hierarquia e, devido a suas ações guerrilheiras, causava grande pânico na população local, assim como preocupação nas autoridades constituídas que, com razão, temiam, ataques dos quilombos.

Assim sendo, as fugas, as revoltas e os quilombos permaneceram na província gaúcha até 1888 quando da promulgação da Lei Áurea, lei esta que assinalou o termino da escravidão legal, mas não o fim das lutas do negro.

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